Notícias da Câmara

Indústria prepara a mais forte promoção externa em décadas

28/04/2022

Lembrar que o conceito Indústria 4.0 foi cunhado na HANNOVER MESSE em 2011 é a forma mais rápida de explicar que esta feira anual na Alemanha é “a feira” da indústria planetária, mas é muito mais do que uma feira. E para a indústria portuguesa, o regresso da HANNOVER MESSE às edições presenciais, entre 30 de maio e 2 de junho 2022, vai ser a mais dispendiosa ação de promoção externa das últimas duas décadas.

Portugal será o país em destaque, a convite da Alemanha que elege todos os anos um país parceiro. Tipicamente, costumam ser países de grande dimensão (EUA, Índia, Rússia, por exemplo) ou que façam fronteira ou sejam próximos dos anfitriões (Polónia, Holanda, Suécia). Portugal entra noutra categoria: a dos “campeões escondidos” da indústria. E a HANNOVER MESSE está apostada em ajudar o mundo a descobrir estes “campeões escondidos”, salienta Marco Siebert, Diretor de Relações Internacionais da HANNOVER MESSE.

Trata-se de uma escolha alemã. Não há qualquer patrocínio nacional envolvido. A organização da Messe decidiu, já há algum tempo, mudar de estratégia, explica o mesmo responsável: revelar os países que nem são grandes, nem são os mais próximos, mas que têm muito para oferecer a uma Europa que quer comprar mais próximo, investir em segurança, ter fornecedores alternativos, em destinos que tenham talento disponível e condições para apoiar a transformação digital, energética e ambiental.

Após dois anos de edições digitais, devido à pandemia, a principal feira regressa ao formato físico e Portugal fará representar-se por 110 empresas. O objetivo é “surpreender o Mittelstand alemão”, apresentando-lhe as “capacidades do ecossistema tecnológico e industrial português.

O Mittelstand é a espinha dorsal da economia alemã. É motivo de “orgulho nacional”, uma longa lista de pequenas e médias empresas alemãs, boa parte delas de origem familiar, mas que não se resume a estas. Gigantes como a Bosch (quase 79 mil milhões de euros e 401 mil funcionários em todo o planeta) reclamam pertencer ao Mittelstand, que se identifica mais por valores e práticas do que pela dimensão empresarial. Inclui nomes talvez menos conhecidos, mas outros surgem por todo o planeta (Sennheiser, Faber-Castell, Miele). Mais importante: representa 60 porcento do volume de emprego e 45 porcento do PIB alemão. Mostram grande capacidade exportadora, praticam a inovação, lideram pela competitividade.

É a este universo que Portugal quer mostrar a sua “nova” indústria. Em Hannover vão estar 68 empresas de engenharia, 16 do digital, 13 da energia e outras 13 da automação. Representar-se-ão em nome próprio, mas também representarão o país, resume Vítor Neves, Presidente da Associação dos Industriais de Metalurgia e Metalomecânica.

A participação portuguesa vai custar três milhões de euros ao Estado português. É o maior esforço de promoção externo dos últimos dez ou 20 anos, afiança o Presidente da Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP), Luís Castro Henriques.

Cada empresa pagará depois, no mínimo, uns 12 mil a 15 mil euros. A fatura individual será, porém, mais elevada, visto que este preço inclui apenas o stand mais pequeno. No ano em que vai ser o país em destaque, Portugal vai apostar mais forte e esta é uma das feiras mais caras do mundo. Os hotéis na cidade já estão a esgotar e cobram centenas de euros por noite.

Esta feira é uma montra tecnológica e a Alemanha oferece a Portugal condições excecionais para se revelar. Terá uma localização privilegiada no pavilhão central de 1500 m2, onde estarão empresas portuguesas e grandes empresas alemãs que já trabalham com ou em Portugal. As primeiras irão mostrar projetos e soluções inovadoras, “numa lógica de ecossistema”. As segundas apresentarão soluções “Created in Portugal”.

Além disso, as cores nacionais irão ocupar espaços em mais três pavilhões satélites, de 200 m2 cada um, as três áreas em que Portugal aposta: soluções de engenharia; ecossistema digital; soluções de energia. A estas acresce ainda a área de automação.

Os setores presentes abarcam engenharia, equipamentos e metalomecânica, automação e robótica, subcontratação industrial, setor da mobilidade, setores automóvel e aeronáutico, têxteis e plásticos técnicos, moldes, energias renováveis, tecnologias de produção e ecossistema digital. Em comum, os 110 “embaixadores” de Portugal nesta feira têm uma “elevada componente tecnológica e científica”.

Na véspera da abertura, a 29 de maio, a comitiva nacional vai mostrar-se aos jornalistas estrangeiros e alemães. No dia seguinte, terá um papel central na abertura, que caberá ao novo Chanceler alemão, Olaf Scholz, acompanhado pelo Primeiro-Ministro português, António Costa. A Messe é também um palco geopolítico - mais ainda depois de dois anos de pandemia, como salienta Marco Siebert, e quando a Europa vive de perto uma guerra que tem impacto na indústria alemã: basta pensar na dependência dos fabricantes de carros face à indústria das cablagens na Ucrânia.

As empresas nacionais assegurarão, todos os dias do evento, um programa de conferências centrado em temas como a energia verde, mobilidade elétrica e a inovação tecnológica e digital. Portugal quer mostrar-se alinhado com o processo de relançamento industrial europeu, destacar as mais-valias do país e das suas empresas, piscar o olho aos investidores.

Além do destaque na vertente física, Portugal usufrui ainda de uma visibilidade acrescida na vertente digital, que a organização da Messe vai manter, para aqueles que não podem ou não querem deslocar-se à Alemanha. O nome do país já está bem visível na página de entrada da HANNOVER MESSE, que se refere a Portugal como “um importante parceiro da indústria alemã, onde as empresas encontram de certeza inovação, fiabilidade e talento empenhado no sucesso”. Destaca-se ainda que a Alemanha é o terceiro parceiro comercial mais importante de Portugal. Uma posição que, segundo Luís Castro Henriques, irá mudar depois desta Feira.

Fonte: Público